Visão da « Droit au Corps » : a via da compaixão

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Versão do 17 de Fevereiro de 2021

  1.  Objetivo e finalidade
  2.  A via da compaixão
  3.  Saúde sexual : transmitir as boas práticas e acompanhar os indivíduos que sofrem pelo facto de terem sido circuncisados
  4.  Abrir um debate público sobre as condições do consentimento à circuncisão
  5.  Desenvolver a aliança internacional para o abandono das mutilações sexuais

Objetivo e finalidade

« Droit au Corps » tem por princípio fundador o direito a dispôr do seu corpo.

A associação tem por objetivo promover o abandono de qualquer forma de mutilação sexual [1] – feminina, masculina, transgénero e intersexo : excisão, circuncisão ou outra -, quer dizer toda modificação dum orgão sexual feita a um indivíduo sem o seu consentimento livre e esclarecido [2], e sem necessidade medical.

Finalidade : a sua ética dando a prioridade a aligeiramento do sofrimento, a associação procura o fim de todos os sofrimentos físicos e psicológicos ligados as mutilaçãos sexuais, e especialemente aquelas que são infligidas às crianças.

« Droit au Corps » preocupa-se prioritariamente com a circuncisão que é desconhecida e pouco falada em debate público.

A via da compaixão

Em coerência com a sua prioridade ética, « Droit au Corps » procura não só o fim dos sofrimentos procedentes das mutilações sexuais, mas preocupa-se também dos quais poderiam suportar os indivíduos que se sentem ameaçados nas suas tradições ou obrigados a perpetuá-las. « Droit au Corps » deseja que todos os campos que dizem respeito ás mutilações sexuais progridam, juntos, para este objetivo.

Quando uma prática esta inserida nas tradições por séculos, a mudança é complicada. O modo de acção privilegiado por « Droit au Corps » não é a confrontação de força, mas a evolução cultural. Uma cultura é um conjunto com complexidade de que a circuncisão é só uma parte : Droit au Corps não pode estar presente em todos os aspetos das ditas culturas mas privilegiará a aliança com os intervenientes progressistas para operar duma maneira global.

Para incitar a evolução das representações e das mentalidades, a maneira escolhida por « Droit au Corps » é a comunicação atraves duma informação a mas objetiva e imparcial possível. Nada será feito com beneficio para as partes sem o alerta das consciências, sem uma educação verdadeira quanto ás consequências das mutilações sexuais.

É suficientemente conhecido através de testemunhos e de estudos científicos que demonstram que a circuncisão é fonte de sofrimento para muito homens tanto agora como no futuro . Uma das prioridades de « Droit au corps » é divulgar estas informações sem tabu.

Não obstante, a circuncisão toca a sexualidade, assunto especialmente sensível : achamos necessário abordá-la com uma delicadeza particular.

A compaixão não é um consenso mudo, antes pelo contrário demostrar a firme determinação de aligeirar os sofrimentos, com tenacidade e em tempo útil.

Saúde sexual : render as boas práticas e acompanhar os indivíduos circuncisados que sofrem

Na história da medicina ocidental, a saúde sexual foi às vezes tratada num ponto de vista mais ideológico do que científico. No século XIX, a idéia que a mutilação do pénis ou do clítoris era o antídoto a masturbação, considerada como o meio importante de patologias. Mesmo esquecendo a origem , a circuncisão ainda é praticada nos Estados Unidos na maioria dos recentes nascidos masculinos sobre pretestos cada vez renovadas quando não existe um tratamento da dor apropriado a esta idade. A circuncisão é tambem um negócio lucrativo : remuneração pelo acto, equipamentos cirúrgicos, venda de prepúcios, etc.

Esta ideologia de luta contra a masturbação, que tem as suas raízes na proibição religiosa do onanismo, deixa sequelas profundas. Hoje em dia, sabe se que a circuncisão nunca é necessária do ponto de vista terapêutico, salvo raríssimas excepções : uma vez que existem alternativas menos invasivas, mas bastante desconhecidas.

E mais, hoje em dia subsiste uma má prática : puxar para trás o prepúcio com força. Efectuada por médicos e/ou por pais por falta de informação, ele pode gerar um terreno patológico e induzir a uma circuncição, e mais, dar origem a dificuldades de ordem psicológica.

« Droit au Corps » tem como objectivos mais importantes :

– transmitir as boas práticas ao grande público ;
– sustentar o esforço da formação do corpo médico e de informação de todos os intervenientes da saúde e se fôr o caso, investir no papel de lançador de alertas ;
– responder às preocupações dos jovens e dos pais a propósito da saúde sexual ;
– oferecer uma ajuda aos homens circuncisados que pedem acompanhamento para reparar se possível os prejuizos ( grupo de palavras, suporte psicosocial, informação sobre as terapias reparadoras…).

Iniciar um debate público sobre as condições do consentimento à circuncição

O direito de dispor do seu corpo sendo o princípio inicial de « Droit au Corps », a associação não é de maneira nenhuma oposta à circuncisão, desde que o indivíduo em questão esteja apto a dar o seu consentimento livre e esclarecido.

« Droit au Corps » deseja a abertura de um debate público sobre « as condições do consentimento à circuncisão » que permite obter um consenso entre todas as partes, ponto de equilíbrio capaz de aligeirar o máximo de sofrimentos.

Desenvolver a aliança internacional para o abandono das mutilações sexuais

Hoje em dia existe uma aceleração recente das iniciativas para o abandono das mutilações sexuais : femininas em primeiro lugar, masculino em segundo lugar e depois transgénero e intersexo. É tempo de unir todas as boas vontades para que a missão de cada uma delas seja mais eficaz.

« Droit au Corps » pleitea para que haja uma consciência universal das mutilações sexuais : será que a comunidade mundial não deverá proteger as crianças de maneira igual, independentemente do género delas ?

É com esta perspetiva que em 2020 o nosso colectivo iniciou a aliança internacional para o abandono das mutilações sexuais, The Bodyguards (Os Guarda-costas).